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sábado, 19 de março de 2016

Maquiné, 24 anos de emancipação

AMANHÃ, 20 DE MARÇO DE 2016, TERÃO PASSADOS 24 ANOS DA EMANCIPAÇÃO DO MUNICÍPIO, QUE OCORREU EM 20 DE MARÇO DE 1992.

Vamos contar, agora, um pouco da História deste município do litoral norte gaúcho. Para tanto, utilizaremos uma obra demasiadamente importante para a localidade, desenvolvida pela ONG ANAMA, de organização de Dilton de Castro, e com participação do historiador Sérgio Antônio Dalpiaz.

O nome Maquiné é oriundo da linguagem indígena, que pode significar: Passo do Diabo, Gota que Pinga, ou Grande Ave que Voa, porém se admite a primeira hipótese como mais provável, uma vez de que na confluência do Rio Maquiné com a Lagoa dos Quadros, local de onde se originou o nome, existe uma travessia de balsa e que, em dias que sopra o vento nordeste com intensidade, torna-se difícil a travessia devido ao tamanho das ondas.
A história da ocupação das terras da região de Maquiné remonta da presença de indígenas coletores, pescadores e caçadores que moravam espalhados pelo litoral do sul do Brasil. No entanto, como território de passagem de povos nômades, a região também pode ter sentido a presença dos povos das História Natural e Cultural de Maquiné 47 florestas, que se alimentavam de caça, pesca, frutas e coleta do pinhão, e dos povos dos cerritos, que eram índios de origem pampeana que construíam aterros circulares chamados “cerritos”. Sabe-se que, nos últimos dois mil anos, outros povos indígenas da região da Amazônia e da região do Prata também se assentaram na região, trazendo a cerâmica e o cultivo de
Cascata do Garapiá
vegetais e formando os povos guaranis. 

No início da ocupação do território por açorianos, a Guerra Guaranítica e a Invasão Espanhola do século XVIII fizeram com que os índios que sobreviveram à morte e à escravização pelos portugueses se espalhassem por outras áreas em busca de territórios mais seguros. Alguns dos índios guaranis que restaram se mesclaram à comunidade de origem negra que veio trazida pelos portugueses. 

Cascata da Forqueta
Os negros, igualmente fugidos da escravidão, se assentaram no Morro Alto, formando ali pequenas comunidades, os quilombos. Negros e indígenas passaram a viver juntos para se defender dos portugueses, refugiando-se em áreas de difícil acesso, cujas trilhas, por sua vez, eram bem conhecidas dos índios. Esses quilombos, interligados por trilhas na mata, eram constituídos de casas de pau-a-pique e pequenas roças. Inclusive, alguns agricultores das proximidades de onde se situa a sede do município ainda hoje encontram vestígios da presença de índios mais antigos ao trabalhar a terra. Na atualidade ainda existem índios morando na região, os M’Byá Guarani, cuja habilidade nos tramados dos artesanato das coberturas das casas exibe seu talento no uso de materiais naturais. Muito da história dos M’byá Guarani na Terra Indígena da Barra do Ouro, no entanto, ainda está para ser registrada. Enquanto posse de autoridades portuguesas, no início do século XIX, as terras pertencentes ao atual município de Maquiné não foram imediatamente colonizadas, sendo vendidas ou passadas por herança até que os primeiros colonizadores, provindos da ilha de Santa Catarina aqui se instalaram por volta de 1840, com seus escravos e suas fazendas de cana-de-açúcar. Os negros trazidos como escravos para trabalhar nas lavouras de cana foram utilizados também nos confrontos citados anteriormente, que ocorreram nas cercanias de Conceição do Arroio (atual Osório). De 1809 a 1857, a região de Maquiné pertenceu a Santo Antônio da Patrulha e com a colonização das terras pelos europeus deu-se o início o processo de transformação da paisagem de florestas em plantações.

Igreja Católica em Maquiné
Maquiné, que já recebeu os nomes de Vila Cachoeira e Daltro Filho no passado, era uma fazenda dentro de Barra do Ouro, que, por sua vez, se chamava distrito Marquês do Herval. A rapidez na construção da primeira igreja (inclusive com ajuda da comunidade protestante) em 1912 demonstrou o interesse do povoado de Maquiné em se tornar um distrito, nesse tempo já administrado por Conceição do Arroio. Imigrantes italianos, atraídos pelas terras férteis de Barra do Ouro desceram de Caxias do Sul pela Serra do Umbu entre os anos 1875 e 1885. Famílias de alemães também se fixaram no local. Em 1896, segundo o Professor Dalpiaz, já como colônia predominantemente italiana, Barra do Ouro contava com casas comerciais, ferraria, sapataria e fábrica de cerveja, além da produção agrícola (milho, feijão, trigo) e de vinho. Em 1911 foi terminada a construção da estrada a Taquara pela Serra da Boa Vista. Sua população chegou a cerca de 2.300 habitantes em 1920, sendo também o distrito exportador de porcos, especialmente para aquele município, que era um plo regional na época. A história de Maquiné registra ainda a passagem de cerca de 900 russos, mas a maioria, por não receber as terras a eles prometidas, se mudou para Rolante e outras localidades próximas. O transporte era feito por água, com balsas à vela ou empurradas com varejões de taquara, que aportavam na Lagoa da Pinguela, próxima a Osório. O porto de Maquiné foi inaugurado em 1922, e desativado em 1950 com a construção da BR 101 e três anos após um grave acidente de barco. Na época em que funcionava o porto, a produção agrícola da região era por ele escoada, sendo que passava por diversas baldeações até encontrar seus consumidores finais, a exemplo de Capão da Canoa.
Inclusive, Maquiné e Capão da Canoa sempre foram cidades parceiras. Enquanto Maquiné abastecia Capão com seus produtos coloniais, tijolos e telhas, a praia era também aproveitada por seus moradores, que, em conjunto, disputavam torneios de futebol, promoviam bailes e festividades. Era famoso, em Capão, o Hotel Monteiro, onde almoçavam os viajantes. Dessa forma, muitos maquinenses foram morar em Capão da Canoa, o que estreitou ainda mais os laços entre as duas cidades. Maquiné ainda hoje fornece produtos a Capão e também recebe seus moradores e turistas que buscam o lazer, as paisagens rurais, naturais e as cachoeiras da região. A construção da BR 101, nos anos 1950, mudou bastante o panorama das comunidades locais, em especial, a comunidade negra do Morro Alto, que História Natural e Cultural de Maquiné 49 passou a viver da extração de minério e de pequenos comércios de beira de estrada. Com a ampliação da rodovia, outros imigrantes, desta vez vindos do nordeste brasileiro, chegaram na metade da primeira década do século XXI para acrescentar à miscigenação cultural local. Atualmente, na cidade se cultivam produtos hortigranjeiros, sendo estes consumidos no local e também exportados para o litoral e para Porto Alegre, de onde são importados diversos bens manufaturados. A agricultura de base ecológica ainda é pequena, a maioria das lavouras subsiste com o uso de agrotóxicos. Para alguns moradores do passado, as florestas de Maquiné eram sinô- nimo de liberdade, para outros, juntamente com a abundância de suas águas, eram a razão da riqueza do solo. Hoje, além dos moradores tradicionais, Maquiné conta com muitos “moradores de final de semana”, pessoas de diversas regiões que buscam lazer e descanso. Outros que vêm de fora para ali morar buscam uma forma de vida mais livre e ligada à natureza. Nenhum deles, no entanto, escapa à força das águas, que de tempos em tempos inunda os caminhos, as plantações e as casas, transformando a paisagem e nutrindo outras vidas na floresta.

BIBLIOGRAFIA:

CASTRO, Dilton de. História Natural e Cultural de Maquiné. Porto Alegre: Via Sapiens, 2009.

Por Marcos Evaldt

Um comentário:

  1. A instalação dos açorianos vindos de SC se deu no período de 1810 a 1816 conforme os registros de batizados e casamento da Diocese de Osório. A primeira Paróquia desta região é a de N. Senhora da Piedade da Barra do Ouro (COLONIA MARQUES DO HERVAL), de 1911, construida com auxilio dos luteranos. Seu primeiro pároco foi o sacerdote italiano Agostino Filizola. Em Maquiné, na sede hoje do municipio, foi instalad no ano de 1940 a Paróquia de SANTO ANDRÉ AVELINO e o seu primeiro paroco foi ATANAZIO ORTH.

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