AMANHÃ, 20 DE MARÇO DE 2016,
TERÃO PASSADOS 24 ANOS DA EMANCIPAÇÃO DO MUNICÍPIO, QUE OCORREU EM 20 DE MARÇO
DE 1992.
Vamos contar, agora, um
pouco da História deste município do litoral norte gaúcho. Para tanto,
utilizaremos uma obra demasiadamente importante para a localidade, desenvolvida
pela ONG ANAMA, de organização de Dilton de Castro, e com participação do historiador Sérgio Antônio Dalpiaz.
O nome Maquiné é oriundo da
linguagem indígena, que pode significar: Passo do Diabo, Gota que Pinga, ou
Grande Ave que Voa, porém se admite a primeira hipótese como mais provável, uma
vez de que na confluência do Rio Maquiné com a Lagoa dos Quadros, local de onde
se originou o nome, existe uma travessia de balsa e que, em dias que sopra o
vento nordeste com intensidade, torna-se difícil a travessia devido ao tamanho
das ondas.
A história da ocupação das
terras da região de Maquiné remonta da presença de indígenas coletores,
pescadores e caçadores que moravam espalhados pelo litoral do sul do Brasil. No
entanto, como território de passagem de povos nômades, a região também pode ter
sentido a presença dos povos das História Natural e Cultural de Maquiné 47
florestas, que se alimentavam de caça, pesca, frutas e coleta do pinhão, e dos
povos dos cerritos, que eram índios de origem pampeana que construíam aterros
circulares chamados “cerritos”. Sabe-se que, nos últimos dois mil anos, outros
povos indígenas da região da Amazônia e da região do Prata também se assentaram
na região, trazendo a cerâmica e o cultivo de
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Cascata do Garapiá |
vegetais e formando os povos
guaranis.
No início da ocupação do território por açorianos, a Guerra
Guaranítica e a Invasão Espanhola do século XVIII fizeram com que os índios que
sobreviveram à morte e à escravização pelos portugueses se espalhassem por
outras áreas em busca de territórios mais seguros. Alguns dos índios guaranis
que restaram se mesclaram à comunidade de origem negra que veio trazida pelos
portugueses.
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Cascata da Forqueta |
Os negros, igualmente fugidos da escravidão, se assentaram no
Morro Alto, formando ali pequenas comunidades, os quilombos. Negros e indígenas
passaram a viver juntos para se defender dos portugueses, refugiando-se em
áreas de difícil acesso, cujas trilhas, por sua vez, eram bem conhecidas dos
índios. Esses quilombos, interligados por trilhas na mata, eram constituídos de
casas de pau-a-pique e pequenas roças. Inclusive, alguns agricultores das
proximidades de onde se situa a sede do município ainda hoje encontram
vestígios da presença de índios mais antigos ao trabalhar a terra. Na
atualidade ainda existem índios morando na região, os M’Byá Guarani, cuja
habilidade nos tramados dos artesanato das coberturas das casas exibe seu
talento no uso de materiais naturais. Muito da história dos M’byá Guarani na
Terra Indígena da Barra do Ouro, no entanto, ainda está para ser registrada.
Enquanto posse de autoridades portuguesas, no início do século XIX, as terras
pertencentes ao atual município de Maquiné não foram imediatamente colonizadas,
sendo vendidas ou passadas por herança até que os primeiros colonizadores,
provindos da ilha de Santa Catarina aqui se instalaram por volta de 1840, com
seus escravos e suas fazendas de cana-de-açúcar. Os negros trazidos como
escravos para trabalhar nas lavouras de cana foram utilizados também nos
confrontos citados anteriormente, que ocorreram nas cercanias de Conceição do
Arroio (atual Osório). De 1809 a 1857, a região de Maquiné pertenceu a Santo
Antônio da Patrulha e com a colonização das terras pelos europeus deu-se o
início o processo de transformação da paisagem de florestas em plantações.
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Igreja Católica em Maquiné |
Maquiné, que já recebeu os
nomes de Vila Cachoeira e Daltro Filho no passado, era uma fazenda dentro de
Barra do Ouro, que, por sua vez, se chamava distrito Marquês do Herval. A
rapidez na construção da primeira igreja (inclusive com ajuda da comunidade
protestante) em 1912 demonstrou o interesse do povoado de Maquiné em se tornar
um distrito, nesse tempo já administrado por Conceição do Arroio. Imigrantes
italianos, atraídos pelas terras férteis de Barra do Ouro desceram de Caxias do
Sul pela Serra do Umbu entre os anos 1875 e 1885. Famílias de alemães também se
fixaram no local. Em 1896, segundo o Professor Dalpiaz, já como colônia
predominantemente italiana, Barra do Ouro contava com casas comerciais,
ferraria, sapataria e fábrica de cerveja, além da produção agrícola (milho,
feijão, trigo) e de vinho. Em 1911 foi terminada a construção da estrada a
Taquara pela Serra da Boa Vista. Sua população chegou a cerca de 2.300
habitantes em 1920, sendo também o distrito exportador de porcos, especialmente
para aquele município, que era um plo regional na época. A história de Maquiné
registra ainda a passagem de cerca de 900 russos, mas a maioria, por não
receber as terras a eles prometidas, se mudou para Rolante e outras localidades
próximas. O transporte era feito por água, com balsas à vela ou empurradas com
varejões de taquara, que aportavam na Lagoa da Pinguela, próxima a Osório. O
porto de Maquiné foi inaugurado em 1922, e desativado em 1950 com a construção
da BR 101 e três anos após um grave acidente de barco. Na época em que
funcionava o porto, a produção agrícola da região era por ele escoada, sendo
que passava por diversas baldeações até encontrar seus consumidores finais, a
exemplo de Capão da Canoa.
Inclusive, Maquiné e Capão
da Canoa sempre foram cidades parceiras. Enquanto Maquiné abastecia Capão com
seus produtos coloniais, tijolos e telhas, a praia era também aproveitada por
seus moradores, que, em conjunto, disputavam torneios de futebol, promoviam
bailes e festividades. Era famoso, em Capão, o Hotel Monteiro, onde almoçavam
os viajantes. Dessa forma, muitos maquinenses foram morar em Capão da Canoa, o
que estreitou ainda mais os laços entre as duas cidades. Maquiné ainda hoje
fornece produtos a Capão e também recebe seus moradores e turistas que buscam o
lazer, as paisagens rurais, naturais e as cachoeiras da região. A construção da
BR 101, nos anos 1950, mudou bastante o panorama das comunidades locais, em
especial, a comunidade negra do Morro Alto, que História Natural e Cultural de
Maquiné 49 passou a viver da extração de minério e de pequenos comércios de
beira de estrada. Com a ampliação da rodovia, outros imigrantes, desta vez
vindos do nordeste brasileiro, chegaram na metade da primeira década do século
XXI para acrescentar à miscigenação cultural local. Atualmente, na cidade se
cultivam produtos hortigranjeiros, sendo estes consumidos no local e também exportados
para o litoral e para Porto Alegre, de onde são importados diversos bens
manufaturados. A agricultura de base ecológica ainda é pequena, a maioria das
lavouras subsiste com o uso de agrotóxicos. Para alguns moradores do passado,
as florestas de Maquiné eram sinô- nimo de liberdade, para outros, juntamente
com a abundância de suas águas, eram a razão da riqueza do solo. Hoje, além dos
moradores tradicionais, Maquiné conta com muitos “moradores de final de
semana”, pessoas de diversas regiões que buscam lazer e descanso. Outros que
vêm de fora para ali morar buscam uma forma de vida mais livre e ligada à
natureza. Nenhum deles, no entanto, escapa à força das águas, que de tempos em
tempos inunda os caminhos, as plantações e as casas, transformando a paisagem e
nutrindo outras vidas na floresta.
BIBLIOGRAFIA:
CASTRO, Dilton de.
História Natural e Cultural de Maquiné. Porto Alegre: Via Sapiens, 2009.
Por Marcos Evaldt